O que é pancreatite?
Pancreatite é um termo designado para referir-se à inflamação pancreática. A diversidade de sintomas e a evolução da doença variam de acordo com cada paciente. Quanto à progressão da pancreatite, ela pode ser classificada como aguda, recorrente ou crônica.
A pancreatite aguda caracteriza-se por evento súbito com duração menor que seis meses. A pancreatite aguda recorrente caracteriza-se por mais de um episódio prévio de pancreatite aguda. A pancreatite crônica ocorre quando a evolução for maior que seis meses.

Quais são as causas de pancreatite?
- Cálculos biliares;
- Álcool;
- Tabagismo;
- Hipertrigliceridemia – Aumento excessivo de triglicerídeos no sangue;
- Medicamentos;
- Distúrbios genéticos;
- Cistos pancreáticos;
- Neoplasias pancreáticas;
- Autoimunidade – Pancreatite autoimune;
- Picada de escorpião (escorpião amarelo – Tityus serrulatus);
- Trauma abdominal;
- Uso de cannabis;
- Hipercalcelmia – Aumento do cálcio no sangue;
- Infecções virais.
Quando buscar um médico especializado?
Dr Bernardo Galvão é especialista em Medicina interna e Gastroenterologia e realizou estágio focado em doenças do pâncreas e vias biliares no Hospital das Clínicas do Hospital Universitário de São Paulo, no qual, teve a oportunidade de acompanhar diversos pacientes com as mais diversas comorbidades que afetam o pâncreas e as vias biliares.
As doenças pancreáticas, costumam ser comorbidades complexas e é necessário que o paciente faça acompanhamento especializado com um profissional especialista nesta área, para assim, evitar complicações.
Realizar um atendimento multiprofissional com nutricionistas fazem com que o paciente alcance um tratamento específico e tenha melhores resultados.
Se tiver, qualquer dúvida a respeito do tema, consulte seu Gastroenterologista.

Quais os sintomas da pancreatite?
As manifestações clínicas na pancreatite apresentam um espectro heterogêneo:
- Dor abdominal de moderada a forte intensidade, localizada no andar superior do abdome. Essa dor pode irradiar para as costas;
- Náusea e vômitos;
- Perda de apetite;
- Febre.

Como se faz o diagnóstico de pancreatite?
Na pancreatite aguda, o paciente irá se apresentar com intensa dor abdominal em região de epigastro associado a náusea e vômitos.
O médico pode solicitar alguns exames, mas o mais importantes inicialmente, são:
- Amilase;
- Lipase;
- Cálcio;
- Triglicerídeos;
- Hemograma;
- Proteina C – reativa;
- Ultrassonografia do abdome superior – para avaliar presença de cálculos/pedras.
- Tomografia do abdome total;
- Ressonância do abdome;
- Ecoendoscopia.
Qual tratamento para pancreatite aguda?
O tratamento da pancreatite aguda se baseia em 3 pilares, incialmente:
- Analgesia;
- Dieta zero, incialmente;
- Hidratação venosa com soro fisiológico.
A grande maioria, dos pacientes, evolui com a forma da pancreatite leve e logo evolui com alta hospitalar. TODO paciente deve ser acompanhado por um gastroenterologista especialista em doenças do pâncreas após sua alta hospitalar, para evitar novas crises e avaliar o que causou a pancreatite.
Pancreatite autoimune: O que é?
É um processo inflamatório autoimune, ou seja, o nosso próprio sistema imune que começa a danificar o pâncreas, podendo levar a danos permanentes em sua estrutura, podendo prejudicar as funções endócrina (hormonal, causando diabetes) e exócrina (produção de enzimas que ajudam na digestão, causando diarreia gordurosa).
A pancreatite autoimune tem sido cada vez mais diagnosticada, e a sua real incidência e prevalência é desconhecida. Alguns estudos demonstram incidência de 0,8 casos para 100.000 habitantes, sendo mais comum em homens, com idade média de 45 anos.
Como fazer o diagnóstico de Pancreatite autoimune?
O diagnóstico de pancreatite autoimune é bastante complexo. Envolve uma anamnese bem feita e detalhada associado a um exame físico minucioso do paciente.
Aproximadamente 80% dos casos apresentam icterícia (pele e olhos amarelados). Frequentemente apresentam sintomas relacionados ao pâncreas (dor abdominal, história de pancreatite aguda) e ao fígado (vias biliares, icterícia), e podem apresentar história de outra doença autoimune e perda de peso.
O especialista pode lançar mão de alguns exames complementares para conseguir fechar o diagnóstico de tal comorbidade tão desafiadora, tais como:
- Dosagem no sangue de IGG4: que irá se apresentar 2 vezes do valor normal;
- Ressonância magnética do abdome;
- Tomografia do abdome;
- Ecoendoscopia;
- Biópsia do pâncreas.
Qual o tratamento da pancreatite autoimune?
A principal forma de tratamento é com corticoide, e a resposta ao tratamento pode ser monitorada através da melhora dos sintomas, dos níveis de igG4 no sangue, testes da função hepática, e tomografia. Aproximadamente 87% dos pacientes respondem ao tratamento com corticoide, mas muitos voltam a ter sintomas ao diminuir ou interromper a medicação.
Outras medicações que podem ser utilizadas são azatioprina, micofenolato e rituximabe. Pode ser necessário o tratamento de complicações da pancreatite autoimune, como a insuficiência exócrina (pancreatina), endócrina (insulina) e obstrução biliar (colocação de próteses).
O que é a pancreatite crônica?
A pancreatite crônica é uma inflamação do pâncreas que dura muito tempo e causa danos permanentes. É caracterizada por ciclos de inflamação e desinflamação, que resultam em fibrose e lesões no órgão.
A pancreatite crônica leva a uma deterioração irreversível da estrutura e da função pancreáticas. Essa alteração de função pancreática gera algumas complicações, como, a insuficiência pancreática exócrina, no qual, o paciente não irá absorver algumas vitaminas, dor abdominal importante, pode desenvolver esteatorreia (fezes gordurosas) e pode ocorrer importante perda de peso.
Como realizar o acompanhamento de um paciente com pancreatite crônica?
O paciente com diagnóstico de pancreatite crônica necessita realizar um acompanhamento com gastroenterologista especializado em doenças pancreáticas.
Tal comorbidade se torna complexa, pois o pâncreas é uma glandula mista, ou seja, ela tem um comportamento endócrino, no qual, produz hormônios, como a insulina, por exemplo; e possui também um comportamento exócrino, pois participa produzindo e excretando enzimas digestivas, como a amilase e lipase, enzimas essas que são necessárias para a absorção de gordura.
O paciente deve ser acompanhado para que o profissional o examine de forma completa, avaliando desde seu peso até quadros de dores abdominais importantes. Por isso, ressalto que o exame físico deve ser completo. O seu médico deve solicitar exames de sangue, dosagem sanguínea de vitaminas, dosagem de sais minerais, exames de fezes, densitometria óssea e exames de imagem (tomografia e/ou ressonância do abdome).
Alguns pacientes cursam com quadro de dores abdominais, algumas vezes, incapacitantes e isso causa no paciente uma diminuição importante na sua qualidade de vida. Com isso, o gastroenterologista deve atuar no controle álgico com medicamentos específicos e, em alguns casos mais refratários as medicações, indicar cirurgia.
Alguns pacientes ainda mantém o hábito de fumar e ingerir bebida alcoólica. Neste cenário, é de suma importância o acompanhamento multidisciplinar com psiquiatra e psicólogo, pois estes hábitos acabam sendo bastante deletérios para o paciente.
O paciente também deve ter um acompanhamento nutricional, visto que, algumas vitaminas e sais minerais podem ficar abaixo dos valores normais. Com isso, a suplementação por meio de uma alimentação balanceada se torna de suma importância.
Diante disso, é necessário que o paciente faça seu acompanhamento regular com seu médico especialista e com sua equipe multidisciplinar, para evitar complicações e manter sua qualidade de vida.

O que é a insuficiência pancreática exócrina?
A insuficiência pancreática exócrina é uma síndrome que ocorre quando o pâncreas não consegue produzir enzimas digestivas em quantidade suficiente. Ou seja, ja é uma complicação da pancreatite crônica.
Suas principais causas são:
- Pancreatite aguda recorrente ou pancreatite crônica,
- Tumores no pâncreas,
- Retirada parcial ou total do pâncreas,
- Fibrose cística,
- Obstrução do ducto pancreático.
O principal exame para diagnóstico é um exame de fezes chamado elastase fecal. Deve sempre ressaltar ao paciente que este exame deve ser colhido com fezes sólidas/semi sólidas. Nunca coletar com fezes líquidas, pois pode alterar o exame e indicar um diagnóstico não existente.
Quais os sintomas da insuficiência pancreática exócrina?
- Fezes claras, acinzentadas, volumosas, com cheiro forte, algumas vezes com gotas de gordura visíveis
- Emagrecimento
- Má absorção de nutrientes
- Desnutrição
- Deficiência de vitaminas (A, D, E, K)
Qual tratamento da insuficiência pancreática exócrina?
O tratamento da insuficiência pancreática exócrina envolve a reposição de enzimas pancreáticas, que é amplamente reconhecida com eficaz e segura para melhorar a absorção e digestão de nutrientes, dieta equilibrada e suplementação vitamínica, se necessário.
A terapia de reposição de enzimas pancreáticas, consiste em tomar cápsulas durante as refeições. A dose é ajustada de acordo com o peso do paciente, a gravidade da doença e a esteatorreia.
A resposta ao tratamento é avaliada pela redução da esteatorreia e melhora dos sintomas gastrointestinais.
Dieta e nutrição –> É de suma importância o acompanhamento por uma nutricionista especialista em doenças pancreáticas. Para assim, evitar complicações, como a sarcopenia e a desnutrição.
O que são cistos pancreáticos?
Cistos no pâncreas são bolsas cheias de líquido que se formam no pâncreas, um órgão vital para a digestão e a regulação do açúcar no sangue. Apesar de muitos serem benignos e assintomáticos, alguns podem representar riscos sérios à saúde, incluindo o desenvolvimento de câncer pancreático.
Com o aumento do número de exames de imagem realizados pelos pacientes, houve um crescimento importante no número de diagnósticos dos cistos. Na grande maioria, dos casos, o paciente é assintomático e há um achado incidental no exame de imagem.
Quais os tipos de cistos pancreáticos?
O pâncreas, um órgão situado atrás do estômago, pode desenvolver formações conhecidas como cistos pancreáticos. Estes cistos variam em tipo, cada um com sua própria natureza e grau de risco associado. A compreensão dos diferentes tipos de cisto no pâncreas é essencial para o diagnóstico e a escolha do tratamento mais adequado.
- Pseudocistos: Estes cistos são os mais comuns, formando-se como resultado de inflamações pancreáticas, como por exemplo como consequência de uma pancreatite. Caracterizam-se pela ausência de um revestimento de tecido epitelial e são preenchidos com fluido pancreático, células inflamatórias e detritos. Pseudocistos geralmente decorrem de pancreatite aguda ou crônica e, apesar de muitas vezes serem assintomáticos, podem requerer intervenção caso cresçam a tamanhos significativos ou causem complicações como dores ou infecções.
- Cistos verdadeiros: Diferentemente dos pseudocistos, os cistos neoplásicos possuem um revestimento de tecido e são classificados em benignos ou com potencial maligno. Dentre eles, destacam-se:
- Cisto Seroso: Geralmente benigno, o cisto seroso é composto por múltiplas pequenas câmaras ou cavidades cheias de um fluido claro. Estes cistos raramente se tornam cancerígenos e muitas vezes são monitorados ao invés de removidos cirurgicamente, a menos que causem sintomas por seu tamanho ou localização.
- Cisto Mucinoso: Este tipo de cisto contém um fluido espesso e gelatinoso, rico em mucina. Os cistos mucinosos podem ser localizados no corpo ou na cauda do pâncreas e têm um risco significativo de malignidade, especialmente em mulheres. Seu monitoramento cuidadoso ou remoção cirúrgica pode ser recomendado dependendo de seu tamanho, crescimento e características específicas.
- Intraductal Papilífero Mucinoso (IPMN): O IPMN é um tipo de cisto que se desenvolve nos ductos pancreáticos, podendo eventualmente levar ao bloqueio desses canais. Este cisto apresenta um alto risco de transformação maligna relacionado especialmente com seu tamanho e localização, requerendo uma avaliação cuidadosa e, eventualmente, intervenção cirúrgica para prevenir o desenvolvimento de câncer pancreático.

Quais os sintomas causados pelos cistos?
Na grande maioria dos casos, os cistos, não causam sintomas. O diagnóstico costuma acontecer quando o paciente faz algum exame de imagem (ultrassonografia do abdome, tomografia ou ressonância) por algum outro motivo e existe um achado incidental.
Quando há sintomas, os pacientes podem cursar com dor abdominal, icterícia, sensação de estômago cheio, náusea e vômitos e perda de apetite. Em alguns casos, os cistos podem levar a um quadro de pancreatite aguda.
O grande risco desses cistos é a transformação para uma neoplasia pancreática, por isso, é de extrema importância que os pacientes façam um acompanhamento regular com gastroenterologista especializado em tais comorbidades.
Como fazer o diagnóstico de cisto do pâncreas?
O diagnóstico de cistos pancreáticos se da, principalmente, como exames de imagem. A partir de uma anamnese detalhada e exame físico minucioso, deverá solicitar os exames complementares para melhor definição de conduta.
Os exames mais indicados são:
- Ressonância do abdome superior + Colangiorressonância;
- Ecoendoscopia;
- Tomografia do abdome total;
- Ultrassonografia do abdome total.
Qual tratamento para cistos no pâncreas?
O tratamento de cistos no pâncreas depende do tipo, tamanho, sintomas e risco de malignidade.
- Observação e acompanhamento: cistos pequenos e assintomáticos, com baixo risco de malignidade, geralmente são monitorados periodicamente
- Drenagem do cisto: em alguns casos, cistos sintomáticos ou com complicações, como infecção ou obstrução, podem requerer drenagem para aliviar os sintomas
- Ressecção cirúrgica: em casos de cistos de alto risco, suspeita de malignidade ou sintomas persistentes, a remoção cirúrgica pode ser necessária
O tratamento dos cistos do pâncreas é altamente individualizado e requer uma abordagem que leve em consideração o estado de saúde geral do paciente e as características específicas do cisto. O acompanhamento do paciente deve ser regular e especializado.
Em resumo
As doenças pancreáticas costumam ser um grande desafio para os pacientes, pois há grande perda de qualidade de vida em casos mais complexos/graves.
Se torna de suma importância o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar (Gastroenterologista especializado em doenças pancreáticas, nutricionista, psicóloga e cirurgião do aparelho digestivo). Tal acompanhamento, visa evitar complicações mais sérias e devolver a qualidade de vida para o paciente.
Conte comigo nessa sua jornada!

Fontes:
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/62842